segunda-feira, 20 de maio de 2013

Nuvens

Duas bandas realmente me encantaram desde que cheguei em Barão Geraldo; uma delas é o Nuvens Invisíveis. (A outra é Oito Mãos, mas essa história fica pra outra hora.) Minha relação com o Nuvens e com tudo isso começou com uma discussão com o Gomes num grupo de Facebook em que falei mal dos Strokes (ele é fã, coitado). Por isso mesmo acabei ficando amigo do Gomes, e então um dia no Bar do Zé (não lembro de quem era o show) ele me apresenta o Janjão dizendo que tínhamos gostos parecidos. Janjão é fanático por Sonic Youth, Pixies. My Bloody Valentine. Yo La Tengo e tudo mais. E computeiro. Afinidade instantânea. Janjão tem uma banda de computeiros (com exceção da Ju que faz composição e na época acabara de entrar). Nuvens Invisíveis. Meio noise, anosnoventa, essa coisa toda.

Fiquei ansioso pra ver um show do Nuvens, que foi muito bão. E em seguida, pra ouvir o EP do Nuvens. Até que saiu em 25 de fevereiro (baixe aqui ou ouça mais abaixo), e eu quis escrever isso aqui mas enrolei até hoje.

Depois desse melodrama todo você pode até achar que vou só rasgar seda. Quase isso; vou começar falando mal. Um problema em todas as canções é de pronúncia: eles escrevem em inglês, e escrevem bem, mas pecam na fonética. Depois que lhe apresentei o som do Lê Almeida, Janjão, que também virou fã, me disse que pensa em começar a escrever em português daqui pra frente. Senão, há que se prestar mais atenção nisso e ouvir um pouco de Wilco que ajuda. Ou não, vai saber.

O EP começa com um grande acerto, “And Curses”. Minha preferida, o título é uma referência computeira, mas a letra é mais sobre relações pós-modernas e seus pecados (curses) que sobre linhas de código mesmo. No entanto o que encanta mesmo é a forma e o arranjo da canção. Uma microfonia de guitarra com um som de prato invertido, uma progressão de acordes mais anosnoventa impossível, uma linha de guitarra quase Pavement, estrofe. Ponte meio pós-punk acumula um pouco de tensão, volta pra estrofe. Refrão (que só aparece uma vez), mais tensão e então uma eufórica variação da introdução. Outra progressão instrumental, mais suave e com um quê de anosoitenta (me lembrou Legião Urbana não sei da onde), querendo voltar pro começo, mas desembocando numa estrofe sobre outra progressão, essa mais pesada. (Aqui aparece um problema que me incomoda, que é a acentuação de regret fora da sílaba tônica.) Nessa hora você pensa que a música vai acabar, mas aí vem mais uma seção instrumental, essa mais delirante, noise bem característico. Esse monte de seções diferentes pode parecer uma colagem sem sentido, mas o arranjo é tão bom que no fundo é uma coisa só. De novo parece que vai acabar, e a introdução volta de novo. (Essa coisa de quase acabar e voltar aparece em outras canções também, mas não chega a ser chavão.) E depois aquela ponte lá do início, super tensa, termina a canção, solta no ar.

“The Spiritual Flowers Under The Spiritual Sun”, uma instrumental. Bem tipo Sonic Youth na fase com Jim O'Rourke. Narrativa bem pensada, dessa vez as seções são menos contrastantes, sem repetições, andando pra frente. Como o trajeto do sol sobre as flores num dia de primavera. Pra quem acha que rock instrumental é só trilha sonora, aqui tem um bom contraexemplo. Um poema muito bonito.

“Ground” é a única música do EP que não gosto tanto. De primeira achei que havia um problema harmônico, tensões que deveriam ser evitadas ou algo do tipo. Só analisando no papel pra saber, mas depois cheguei à conclusão de que não está tão bem tocada como as outras; não é a formação padrão da banda. Ao vivo soa melhor. Nesse caso também achei as seções mais desconexas. Também parece haver muitas mudanças de centro harmônico. Acredito que a banda tenha mantido essa por uma relação afetiva, tanto que é a que escolheram pra lançar videoclipe. Até tem alguns riffs legais. E lá pro final tem uma seção psicodélica que tem sua beleza.

“Lost Elephants”, a mais eufórica em qualquer apresentação da banda, finaliza o EP com tensão. Mais acelerada, mais punk, com direito a coro gritado. Um desespero angustiado dessa vida maluca. É a canção mais direta, mais simples, mais intensa, mas igualmente bem tocada e elaborada. Pra dar vontade de ouvir tudo de novo.

sábado, 11 de maio de 2013

Sobre Como Aprendi a Apreciar Divas Pop

Hoje tava ouvindo o vinil Like a Virgin (1984) da Madonna (muito fácil de achar nos sebos da vida) e lembrei dessa tese que já vinha formulando.

Quem me conhece sabe que não sou muito chegado em música das massas. No entanto, a maioria dos meus amigos de São Paulo, como boa parte da juventude pós-moderna, se liga muito nesse pessoal como Lady Gaga, Britney Spears, Beyoncé, etc. Então fui obrigado por muito tempo a conviver com essa música e acabei entendendo como a coisa funcionava; descobri que até existem coisas bem legais.

Cheguei à conclusão de que a maioria das pessoas utiliza os seguintes critérios pra avaliar se gosta ou não de uma diva:
  1. Técnica vocal: se canta bem, se a voz é potente, etc. Isso pra mim não é um critério importante, assim como acho pouco relevante uma banda ter ou não músicos virtuosos.
  2. Coreografias. Pff.
  3. Performance, relação com o público, etc. Pelo que entendi, esse é o critério pelo qual a maioria dos fãs de Britney Spears a admiram, já que nos dois anteriores ela é uma negação. (Me falaram que rola uma certa nostalgia da adolescência também, algo parecido com o que eu sinto em relação a Legião Urbana.)
    Também pouco relevante pra mim, mas achei muito legal esse quesito em relação a Beyoncé, que toca com uma puta big band só de mulheres e tem uma postura de emancipação feminina (meio controversa, é verdade) e tudo mais. (Depois desse vídeo com Mr. Tweedy, então, passei a gostar ainda mais.)

  4. Letras. (Geralmente é a última coisa que vou prestar atenção.)
  5. Conceito artístico. Dessa vez, o peixe é pros fãs de Lady Gaga e Madonna, embora as duas também tenham desenvoltura nos outros quesitos. Acho isso legal, mas ainda não é música.
Como nenhum dos critérios acima funcionou pra mim, resolvi estabelecer os meus. E cheguei nos dois seguintes.
  1. Divas que compõem. É o caso de Madonna, Lady Gaga e Beyoncé. Se a guria manja de música e não é simplesmente um marionete da indústria, já ganhou um bocadinho do meu respeito. Desse grupo, no entanto, não consigo gostar de Lady Gaga, acho que devido aos timbres muito artificiais e a uma postura muito rebelde sem causa, hahaha.



A outra metade (ou a maioria) desse pessoal não se enquadra no grupo acima, e em geral gravam músicas compostas por produtores (às vezes três ou quatro trabalhando na mesma música), então o mérito da composição (que é o que vale pra mim) fica pro produtor. E dessa forma estabeleci o segundo critério, que é
  1. avaliar músicas específicas. E foi assim que descobri músicas muito divertidas, como "Toxic", interpretada por Britney Spears, e "Get Outta My Way" e "In My Arms", por Kylie Minogue.
"Toxic" tem uma harmonia muito legal (modal, como praticamente tudo do gênero), um arranjo meio latino e um baixo bem divertido.



"Get Outta My Way" me pega pela harmonia, em modo lídio, e pelo timbre do instrumental do refrão, levemente distorcido.



Já "In My Arms" tem um riff sensacional que gruda no seu ouvido, e um arranjo excelente que coloca muita bandinha pseudo-indie de merda no chão.



Devem ter outras coisas que não tou lembrando agora. E não que eu fique ouvindo nada disso em casa.

(Uma breve digressão sobre "Like a Virgin".) Acho que comecei a gostar da música depois de ver o cover do Teenage Fanclub.



É engraçado como essa música toma uma conotação totalmente diferente quando, ao invés de por uma moça "depravada e contra os bons costumes", é cantada por um grupo de nerds tímidos e românticos. Aqui eles realmente são virgens, hahahaha.