sexta-feira, 22 de junho de 2012

A nova "aposta da MTV": O Terno

Nova banda queridinha da mídia (claro, apadrinhados: o frontman é filho do Maurício Pereira d'Os Mulheres Negras).


Nessa reportagem os membros citam The Kinks e Fleet Foxes. Junte isso à cara de nerd do vocalista, no mínimo atraíram minha curiosidade.

Minha análise da canção: progressão harmônica e melodia decentes e fluidas, embora cheias de clichês. Linha melódica acessível, bem estilo marchinha de carnaval da Tropicália ou dos Kavernistas; particularmente, não me agrada muito. O pessoal do IA vai gostar.

A letra, metalinguística, é interessante e expressa bem o conflito dos (aspiradores a) compositores de música popular contemporânea e a solução mistureba-de-referências (à Lady Gaga), intrínseca à geração internética que tem acesso a tudo. Massa a parte final: "dodecafonia, dodecafonia pra você".

Arranjo bem feito, mas os únicos momentos que realmente me pegaram foram o solo à Kinks, após ele dizer "66", e a parte da dodecafonia.

Produção musical bem decente, mas me parece ter tirado um pouco da pegada de rock da banda. Ao vivo deve ser melhor.

O clipe é bem legal e divertido, transmite bem a ideia da música.

Conclusão: os caras são MUITO inteligentes, entendem de música e têm gente grande apoiando. Claramente querem vender, e aparentemente seguiram todas as regras; vamo ver no que dá. Não ouvi o restante do álbum pra avaliar, mas minha profecia: o segundo ou o terceiro álbum desses caras, se vier e se eles não forem vítimas de pressões de gravadora, vai ser algo sensacional.

domingo, 10 de junho de 2012

You know it's all beginning

Taí uma hipótese que vem me encucando bastante ultimamente.

Duas transformações sociais muito fortes dos últimos tempos são (1) a "homossexualização do mundo" e (2) uma individualização extrema, em especial por parte dos mais jovens. Dizem que a segunda é culpa da Internet e das redes sociais; ou que é de Plutão. No fundo não importa muito, e tá claro que é isso mesmo que acontece. Quanto à primeira, no entanto, a maioria das pessoas ditas bem-informadas acreditam que, na verdade, o mundo sempre foi gay e que agora simplesmente os homossexuais estão tendo seu espaço. Os mais conservadores já dizem que isso é coisa da cidade grande, fruto da desestruturação da família e da inversão de valores da sociedade pós-moderna. Nos permitamos à dúvida das nossas próprias ditas sábias conclusões e suponhamos que estes estejam, mesmo que em parte, com a razão. Minha hipótese é: e se ambas forem, mais do que simples desdobramentos antropológicos, mecanismos sutis e coletivamente inconscientes de evolução/preservação da espécie/vida/planeta?

Vou me deter um pouco menos na primeira: homossexuais, em geral, não têm filhos biológicos. Portanto, menos explosão demográfica. Quando estruturam uma família, é comum (ao menos onde isso já é permitido) adotarem crianças que seriam, de outra forma, excluídas de um convívio familiar (e sofreriam as consequências implícitas). O foco muda da propagação de genes (e de todas as relações de consumo provenientes desse afã) pra relações desinteressadas de acolhimento. (Sim, porque não será que o amor inexplicável e o auto-sacrifício de uma mãe biológica são, no fundo, puramente biológicos? Conheço vários exemplos que mostram que amar um filho adotivo requer um amadurecimento emocional e espiritual muito maior.) O que ainda requer um pouco mais de subversão é se permitir ao questionamento: e se, não apenas a solidão, mas o individualismo (um dos grandes enfoques, por exemplo, do budismo) também for uma solução?

Um conhecido meu adota o seguinte lema: "o amor é um sentimento burguês". Outro questiona até que ponto a necessidade de um relacionamento afetivo não é uma imposição cultural. Li recentemente na revista da Livraria Cultura um artigo bem extenso sobre solidão, que discute (fique claro que não só) seus benefícios etc. Não sei dizer até que ponto não são hipócritas (o artigo, por exemplo, tem ao fim uma incômoda propaganda de vinho). Meu ponto, no entanto, e confesso que eu mesmo tenho certa dificuldade em encará-lo, é até que ponto o egoísmo mesmo não é benéfico. O livro da Iyanla Vanzant, um clássico da auto-ajuda pra mal-amados, enfatiza o tempo todo que, pra amar alguém e ser amado, você precisa primeiro amar a si mesmo. Pessoas egoístas muitas vezes desprezam a tal entidade família, e mesmo os egoístas heterossexuais mais sensatos (lembrando da alta disponibilidade de métodos contraceptivos e, não sejamos hipócritas, abortivos - deixando claro que, embora seja a favor da sua legalização, não os considero éticos nem positivos espiritualmente) também não têm filhos, biológicos inclusive. (Nota para o leitor desatento: nesse último período, "mesmo" e "inclusive" ficaram estranhos, mas os vejo necessários.) Egoístas sinceros, com ou sem obrigações familiares, não titubeiam em seguir suas vocações profissionais apesar de dificuldades financeiras e de rejeição social; acredito firmemente que essa é uma das soluções pro absurdo ciclo de consumo e exploração capitalista.

Não que o egoísta não ame. E embora recentemente eu tenha chegado à conclusão de que escolho meus amigos e paixões não pelo bem que me fazem, mas pelo que são na essência (e conjecturo que o amor verdadeiro é assim), a grande contradição (não sei se consigo deixar isso claro) é que esse é um amor egoísta, e que o dito altruísta, em geral, sofre muito mais de culpa e de dependência emocional do que de amor. (Ou o contrário.) Mais que isso, só um outro egoísta pra amar um egoísta e, de certa forma, entendê-lo e aceitá-lo como tal. (Tá, ficou uma merda, mas desisto de melhorar essa parte.) Me atrevo a dizer (aliás, isso não é teoria minha, mas não lembro de quem) que o próprio Deus judaico-cristão é um grande egoísta, que criou o homem pra apaziguar sua própria solidão. Ele não amou, nem se preocupou em criar um mecanismo de salvação, por exemplo, para Satanás, que também foi criação sua; aliás, a mais perfeita de todas. (A Bíblia diz que Cristo não foi criado, mas gerado.) Tweedy diz em Can't Stand It que "no love's as random as God's love" e, mais à frente, que "no love's as random as my love". Outra canção do Wilco que exemplifica muito bem o amor egoísta, e que é a minha música preferida do último disco, é Whole Love. (Também creio que o amor é anti-social, mas deixo isso pra outra hora.)

O fato talvez seja que, inevitavelmente, pessoas egoístas são solitárias. Mesmo as casadas, cheias de filhos e amigos. Comentei outro dia numa mesa de bar que o mundo parece estar evoluindo pras pessoas se libertarem de obrigações sociais e poderem ser sozinhas. E até que ponto não será o caso de que as grandes transformações que a gente deseja requeiram pessoas solitárias e individualistas?

E eu ainda podia divagar um pouco mais e falar sobre meditação e pop barroco, mas deixa quieto.