terça-feira, 20 de março de 2012

O dia em que entendi o samba

Lá vem um post nerd.

Um dos ritmos mais difíceis pra quem está aprendendo a tocar bateria, ou pra quem não é mas vez ou outra gosta de brincar um pouco de baterista, é samba/bossa nova. E o motivo é óbvio: a coordenação entre bumbo e caixa não é tão simples como no rock, por exemplo, em que em geral não se tocam bumbo e caixa juntos.

E mesmo sabendo disso há muito tempo e já tendo tocado bateria num grupo, eu nunca tinha conseguido tocar bossa nova direito. Faz pouco mais de um mês, tomei vergonha na cara e fiz uma coisa que sempre me ajuda quando não consigo tocar uma música por não ter uma noção precisa do que ela é: transcrevê-la. Por preguiça, só fui passar pra cá hoje.

A linha básica do samba não é complicada, no fim das contas. Basta imaginar que originalmente você tinha instrumentos de percussão que tocavam juntos: surdo, pandeiro e tamborim. Esses instrumentos vão ser imitados por peças da bateria: bumbo, chimbau e caixa, respectivamente.

A linha do bumbo é a mais simples e consiste no seguinte.


A linha do chimbau também é bem simples: semicolcheias o tempo todo, com acentos nos tempos correspondentes em que o bumbo toca.


Já a linha da caixa é um pouco mais complicada, e a que mais varia de uma música pra outra. A mais comum (ou a que primeiro me veio à mente, sei lá) é a seguinte.


Tocar cada uma dessas coisas separadas, ou mesmo o bumbo e o chimbau juntos, não é difícil (pelo menos pra quem é brasileiro), certo? O problema é quando você vai combinar as três peças, que dá no seguinte. (Tirei os acentos do chimbau pra ficar mais limpo.)


E, tentando tocar isso aí, fica claro que a dificuldade está na última semicolcheia do segundo tempo do primeiro compasso. Se você focar nessa nota (bumbo + caixa), na nota seguinte você só toca o chimbau, esquecendo do bumbo. Se você focar nos dois toques consecutivos no bumbo, não consegue tocar a caixa. O segredo, pelo menos pra mim, foi imaginar que a nota anterior da caixa (segunda semicolcheia do segundo tempo do primeiro compasso), na verdade, é uma colcheia.

(Uma coisa engraçada é que, embora o primeiro tempo do compasso seguinte seja idêntico, esse problema não acontece ali.)

E aí, se você der uma olhada com calma nessa última partitura, vai ver que existe um padrão muito interessante. Se você chamar bumbo+caixa+chimbau de A, chimbau de Y, caixa+chimbau de C e bumbo+chimbau de B, fica

A Y C B, B C Y A | B C Y A, B C C B.

Dados interessantes são: o primeiro tempo é simétrico ao segundo, o segundo e o terceiro tempo são idênticos, e o quarto tempo é simétrico por si só. É um padrão muito rico, né? Se você prestar atenção, a mesma simetria aparece na linha da caixa, o que depois fica meio óbvio já que o bumbo e o chimbau são totalmente simétricos por si mesmos.

Ser nerd é foda, né?